DIY é mais do que estimular o cérebro, é também uma forma de ser contra o sistema corporativo/industrial e também monetarista.
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Na construção a coisa é sem mimimi e momomo, o papo é rústico e reto! :oD

Sai da cidade grande em nome de um dia a dia mais salubre e para construir minha casa com uma boa oficina, e nela poder fazer minhas estrapizongas mais livremente, o resto é história...

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Geracão de energia e sustentabilidade

O uso de fontes alternativas de energia só pode ser considerado "sustentável" se ele for acessível e popular, caso contrário teremos uma grife chamada "sustentável" ou "eco- qualquer coisa" apenas para ostentar para os vizinhos e colocar as fotos nos facebooks da vida.

No meu outro blog já postei algumas coisas sobre ecobobagens (post 1, post 2 e post 3).
Mas vamos aos fatos.
A Aneel aprovou a regulação da microgeração de energia em 2012, o que poderia ser interessante se não fosse uma portaria falha e sem nenhuma outra política junto.
Um micro gerador de energia (até 100KW) e um mini gerador (acima de 100KW e abaixo de 1MW) pode se conectar a rede da concessionária e ter abatimento em sua conta ou até ter crédito em sua conta.
Por crédito entende-se que se for repassado algo para a concessionária você fica com um crédito válido por 36 meses e caso não seja usado você perde o mesmo. Não existe nada de "venda".
Claro, se o consumidor tiver outros pontos de atendimento em seu nome (todo pobre tem várias casas, comércios, etc, não é mesmo?), poderá usar os créditos nesses pontos. Nada como o social!
Apesar de não poderem, as concessionárias de energia colocam toda a espécie de barreiras, como exigência de laudos, equipamentos “homologados”, projeto técnico com ART (“super” acessível para qualquer um), memorial, desenho, diagramas, parecer de acesso, troca de relógio leitor (sob a responsabilidade financeira do consumidor), vistoria, blablabla.
Somente o governo de MG resolveu cobrar o ICMS sob a diferença entre o que chega da concessionária e o que é gerado, os demais estados parecem que cobram sobre tudo (se eu não me engano 25%). Portanto, se vc tiver crédito de geração vc também paga ICMS pela sua própria geração!?!?!?
Ainda faltam o PIS e o COFINS (9,25%)...
O crédito da geração se faz pelo “custo de disponibilidade”, ou seja, te pagam sempre o mínimo. Joia!
Não há nenhum incentivo para a aquisição de painéis solares, turbinas ou partes para a construção dos mesmos. A portaria é como todas as normas e leis nesse país, ou seja, basta uma canetada que tudo é resolvido como mágica (cuidado portanto com a crença de que a redução na maioridade penal por si ira resolver a criminalidade) .
Pelo que estudei, os mapas eólicos brasileiros são bem fracos e a maioria detalha ventos em 100 metros de altura. Sinceramente, que micro gerador vai conseguir bancar uma torre dessas?!
O nordeste tem o maior potencial eólico e o sudeste um potencial fraco/médio dependendo da localidade. Aqui em SP a expectativa não é das melhores, mas em alguns pontos do litoral parece haver algum potencial.
O Brasil tem bom potencial misto (eólico/solar) de geração e portanto seria muito razoável, prudente e estratégico que se incluísse o custo em escala (leia-se: já na implantação do conjunto habitacional) de uma geração mista em projetos de habitação popular. Por exemplo: mini turbina eólica, painéis solares e inversor no próprio custo da habitação popular.
Segundo estudos, isso aumentaria R$ 16,00 nas parcelas do comprador que seria facilmente abatidos de sua conta de luz e possivelmente (supondo habitação popular com gastos da ordem de 100KW) sempre em crédito, ou seja, isso poderia gerar renda se fosse algo decente!!!
A despeito de toda filhadaputagem (desculpem me mas não consigo achar um termo acadêmico para esse tipo de conduta) envolvida, com algum cuidado e planejamento (isso inclui soluções que não são da grife “ecochatos sustentáveis que aparecem no Jornal Nacional”) ainda vale apena desde que se dê uma banana pra essas merdas (ops, escapou) de concessionárias e tome-se cuidado para não “doar” pro pessoal de Wall Street parte dessa iniciativa (vide Stiglitz, Krugman, Sen e Piketty para melhores estudos sobre a necessidade do retorno da moralidade ao capitalismo).
As maneiras mais viáveis de reduzir o consumo de energia elétrica visando redução nos custos fixos pessoais e melhor aproveitamento dos recursos naturais se faz com pequenas soluções pontuais.
Se você quer "aparecer bem na foto" é outro problema.

Numa residência média (definindo arbitrariamente) o consumo gira na casa dos 200KWh por mês, somente a geladeira deva absorver em torno de 50KWh a 60KWh por mês (esse negócio de colocar uma nota de consumo não deveria substituir a divulgação do consumo nominal, mas sim complementá-la).
O chuveiro, supondo 4 banhos diários de 10 minutos no "verão" (uns 2200W), é responsável por aproximadamente 44KWh por mês.
Portanto, pode-se perceber que só esses dois itens já são responsáveis por quase 50% da conta de luz!

Esses são dois bons pontos a se cercar, além de (se é sua opção) luzes que ficam acesas por toda a noite como em algum jardim ou entrada da casa.

O restante do consumo familiar geralmente se faz por pontos variados que ficam ligados por pouco tempo e que possivelmente são embutidos no custo de geração (aquela parte fixa cobrada como mensalidade que lhe dá direito a n KWh por mês que depende do padrão da instalação - B1, B2, C1, etc).

Nas tomadas onde tradicionalmente se utilizam aparelhos que ficam em stand by, como micro ondas, TV`s, etc, pra quem quer ser radical com  a coisa, pode-se instalar interruptores de modo a dispensar o tira e põe na tomada. Ex: o home theater já dispor de um interruptor em algum local do móvel para desligar todos os aparelhos do conjunto ou o armário da cozinha já contar com um interruptor que desligue a tomada do micro ondas.

Update: Um dispositivo residencial típico em stand by deve consumir algo na casa de uns 30mA (0,03A) na média sob 110VAC de alimentação. Ligado 12 horas por dia é o responsável por 1,12KWh por mês.
Um detalhe não estudado é que ao se desligar um desses aparelhos na tomada e religa-lo, uma corrente de surto ocorre, que causa um pequeno pico de consumo e principalmente reduz a vida útil do aparelho. Em stand by, o aparelho sai sempre de uma "partida a quente" digamos assim.
O quanto essa redução de vida útil e esse pico de consumo impactam negativamente na economia citada ainda não está muito clara. Mais uma vez, discursos simplórios afetam nosso julgamento...

A solução off grid, ou totalmente separada da rede elétrica, é um tanto quanto "arrojada" e acho que dados os custos e a durabilidade dos bancos de bateria só é viável em imóveis consideravelmente isolados da zona urbana. Como também não se trata de algo mais acessível como o que eu me referia nem vou entrar em mais detalhes.

Exemplo de projeto off grid.
Os sistemas on grid, ou conectados à rede elétrica, se diferem por não usarem baterias e utilizarem um inversor especial que é conectado diretamente à sua instalação elétrica. Aqui entra o conceito de micro gerador.

Exemplo de sistema on grid.

Devido às dificuldades impostas aqui na terrinha, um conjunto de gerador eólico entre 600 e 1000W acrescido de um conjunto solar de uns 400W poderia ser uma ótima opção, sem correr o risco de se perder os créditos de geração e simplesmente ignorando a concessionária de energia.

Com boa vontade é possível fazer tudo em casa (aqui ou aqui um exemplo bom do que pode ser achado na rede), menos as células solares (mas você ainda pode comprar em módulos e fazer a placa toda). No caso do inversor grid tie, a sua execução é mais complexa, portanto, se não tiver prática/conhecimento em eletrônica acho aconselhável nem arriscar.
Projeto que vou adaptar: parte 1, parte 2 e parte 3.

Associando esse sistema a um aquecedor solar (aqui homemade sem instalação especial e outras frescuras) podemos ter uma redução significativa na conta!

Aqui um estudo de caso de 2013 sobre uma residência familiar popular. Note que mesmo com equipamentos com preços um pouco altos e a energia elétrica mais barata que a atual, o sistema ainda é compensatório.


Conclusão: se não conseguir baratear o custo de implantação, o retorno do investimento será em muitos anos, desestimulando o consumidor a adotar uma postura ecológica dado as condições econômicas da maioria.
Se a sua ideia for aparecer no JN e colocar fotinhos no seu perfil de família de margarina, basta gastar uns 50 ou 60 mil pra mandar colocar tudo o que a grife "sustentável" disponibiliza.
Porém, se a sua ideia for a de poupar (isso também é uma postura ecológica por si só), continuando a se praticarem os atuais preços dos equipamentos no Brasil, a saída mais viável é dar uma banana para a burocracia junto a concessionária de energia, fazer muita coisa em casa e planejar muito bem o projeto.

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